Produtores rurais assistidos pelo ITERJ falam de seus trabalhos em tempos de quarentena

Quarta-feira, 8 de Abril de 2020

Legumes, verduras, frutas, hortaliças, mel, leite e seus derivados são culturas das comunidades rurais fluminenses com apoio do Estado

 

“A agricultura não vai parar, mas fique em casa por nós”. O recado vem do campo para a cidade e o porta-voz da mensagem é o Senhor César de Souza , 66 anos, do Assentamento Fazenda São Domingos, Conceição de Macabu, Norte Fluminense. Nessa fala, ele resume o sentimento e o trabalho incansável de um grupo de 2.732 famílias, em 18 municípios, assistidos pelo Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ). É um sentimento que assegura, no que depender deles, não vai faltar comida aos irmãos da cidade, mas aponta para a conscientização da população urbana fluminense em manter o isolamento social como forma de impedir a circulação e propagação do novo coronavírus (covid-19).


Durante a quarentena decretada pelo Governo do Estado, esses produtores relatam como precisaram se adaptar a algumas mudanças locais, mantendo o empenho para que o abastecimento fosse garantido, mas seguindo os cuidados preventivos contra a pandemia.

 

Em São Gonçalo, Região Metropolitana Fluminense, com a suspensão das feiras locais nas quais os agricultores da Fazenda Engenho Novo participavam, logo veio a preocupação de como escoariam suas produções. Até que tiveram a ideia de montar um grupo de Whatsapp para atender a clientela com entregas em domicílio. A ideia deu tão certo que até dobrou o número de clientes, como conta o senhor Marco Antônio Coelho, 63 anos, mais conhecido na região como Carrapato: 

 

“Começamos atender cerca de 20 fregueses e agora já são quase 40. Estamos até pensando em abrir um novo dia de entrega. Atualmente entregamos nas terças e sextas-feiras, mas estamos nos organizando para entregar também nas quartas ou quinta-feiras e nos sábados”

 

Cuidados e higienização 


O sr. Carrapato está atento a todos os cuidados necessários. Conta que as atenções com a higienização foram redobradas, tanto dos produtos, como dos asseios pessoais, que vão desde o lavar das mãos às mudanças de hábitos quando retornam para casa:

 

“Já tem um lugar na casa para minha esposa ou meu filho deixarem a roupa quando voltam da rua e partirem para seus respectivos banhos. Como grupo de risco, estou fazendo tudo que o governo orientou: cumprindo o isolamento social, mantendo o contato somente com eles (esposa/filho) e, assim como as abelhas, só saímos para trabalhar”, conta com bom humor o agricultor que também é apicultor, produtor de mel de abelhas.

 

Ajuda mútua e solidariedade

 

O Sr. Onofre Pereira é um dos produtores pioneiros e explica com orgulho que tem de tudo no rol das produções da Fazenda Engenho Novo - mel, melado, legumes, verduras, hortaliças, frutas cítricas, leite e seus derivados - e que todo mundo se ajuda na hora de vender: 

 

“Muitos não tem carro para fazer as entregas, então, a gente que tem, combina de pegar a produção dos que não têm e levar pra entregar por eles, repassando os itens ao cliente no mesmo valor que o próprio produtor passou”.

 

Na Baixada Fluminense, os trabalhos também não pararam. Alex Sandro Batista, 45 anos, mostra por vídeo sua vasta área de produção na Fazendinha, Campo Alegre/Queimados, e explica: 

 

“Nessa área aqui produzimos mandioca, batata doce. Eu, minha esposa e meus dois filhos trabalhamos e abastecemos as Feiras do Circuito Orgânicos do Rio e o município de Queimados. Estamos na luta, não vamos parar não; mesmo com as dificuldades desse vírus nós vamos continuar produzindo”.

 

Na mesma região, no Sítio Heróis da Fé, o recado vem de Luyanne Figueira, 21 anos, e a tia dela, Débora Figueira da Silva, 56 anos: 

 

“Estamos aproveitando esses dias de isolamento social para trabalhar no sítio, ampliando a área de produção, utilizando os resíduos orgânicos para fertilizar o solo. Já que não temos como sair, estamos contribuindo com a ampliação da nossa produção para contribuir com a sociedade”

 

Do Noroeste Fluminense, Laudelina Barreto, 30 anos, também relata que, desde que a quarentena começou, as demandas aumentaram, pois são muitos os pedidos. Na Fazenda Experimental de Italva, ela e a família atuam com a criação de galinhas caipiras, para a comercialização de ovos.

 

 “Graças a Deus estamos trabalhando bastante para atender os pedidos diversos aqui da região. São padarias, mercados locais e até diretamente ao consumidor final. Infelizmente tivemos que reajustar o preço, pois tivemos altas nos preços do milho, da ração e das embalagens que utilizamos”, conta Lina, como é conhecida a produtora de Italva, explicando que vendiam a dúzia de ovos a seis reais e, agora, tem repassado ao consumidor por R$ 7,50.


“No início da semana, a Secretaria das Cidades destacou que o nosso trabalho segue, mesmo remotamente, dando toda a assistência necessárias à essas comunidades rurais e, para nós, receber esse retorno e relato dos produtores, sabendo que estão produzindo para o próximo, seguindo os cuidados de prevenção e garantindo a subsistência da própria família, é uma alegria muito grande”, destaca o Presidente do ITERJ, Clébson Guilherme.  

 

Texto: Rafael Brito

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