Resgatando Memórias: conheça o escritor Gabriel Onofre

Terça-feira 3 de Novembro de 2015

Lançamento do livro na Livraria Travessa

Gabriel Onofre, que saiu recentemente do Iterj para se dedicar exclusivamente à educação como professor pelo Colégio Pedro II, lançou o seu primeiro livro impresso, na Livraria da Travessa no Centro do Rio, na última quarta-feira (28/10). Historiador, Gabriel analisa o cenário político pré-1964, tendo como base a trajetória do político e intelectual San Tiago Dantas, que tinha por ideologia o trabalhismo democrático.  É neste período histórico que é feito "Em busca da esquerda esquecida: San Tiago Dantas e a Frente Progressista".

 

A equipe do Iterj conversou e esteve presente no lançamento. Confira:

 

Por que San Tiago como protagonista do livro?

San Tiago foi um personagem político importante do período anterior ao golpe de 1964. Decidi estudar sua trajetória política por duas razões principais: primeiro, porque, salvo nas áreas do Direito e das Relações Internacionais, ele ainda é pouco estudado; segundo, porque queria estudar sua última atuação política, a Frente Progressista.

 

O que representa aquele período para você?

Entendo que este é um período marcante de nossa história. São anos de grandes expectativas e mobilizações sociais, quando movimentos de camponeses, estudantes e trabalhadores urbanos se engajaram na luta pela conquista de reformas políticas, econômicas e sociais no país, as chamadas reformas de base. Infelizmente, a radicalização política que se seguiu resultou no golpe civil-militar.

 

De forma geral, como você avalia as estratégias políticas naquele momento?

A Frente Progressista, organizada por San Tiago a pedido do presidente João Goulart, representou uma tentativa de ação política mais moderada naquele momento. Diante de propostas radicalizadas, tanto das esquerdas como das direitas, a Frente Dantas tentou ser uma alternativa de construção de um consenso a favor das reformas econômicas e sociais respeitando as instituições democráticas. Seu objetivo era aprovar as reformas de base. Ainda que com um programa de reformas mais moderado, a ideia da Frente era sepultar as conspirações golpistas que estavam em curso. Por isso, entendo o fracasso da Frente como a derrota também da democracia brasileira.   

 

Falando sobre sua experiência no Iterj, como você acha que a sua experiência na elaboração do livro auxiliou no seu trabalho no Instituto?

O livro “Em Busca da Esquerda Esquecida” aborda as lutas políticas e sociais de nosso país na chamada República Democrática de 1946-1964. Aquelas lutas acabaram sufocadas nos 21 anos de ditadura que se seguiram. A volta da democracia, na década de 1980, foi também o retorno da luta daqueles – e de novos - movimentos sociais. Dessa forma, vejo que o trabalho no ITERJ me permitiu observar mais de perto a história da emergência desses movimentos no âmbito da luta pela terra e pela moradia. São trabalhadores rurais e urbanos que reivindicam um direito básico, o direito à moradia, consagrado em nossa constituição atual. Suas lutas nos transmitem a mensagem que os setores populares não querem uma democracia que seja apenas sinônimo de voto; uma sociedade democrática deve ser mais do que isso.

 

Na sua avaliação, quais foram as maiores conquistas na luta pela terra no estado do Rio de Janeiro? E, hoje, quais são os desafios?

Acredito que nas três últimas décadas tivemos conquistas políticas e sociais importantes. Ainda que com uma democracia jovem e com muitos problemas, algumas vitórias precisam ser destacadas, até para serem preservadas. Para ser mais preciso, pensando no estado do Rio de Janeiro e na questão da terra, devemos ressaltar o direito à moradia consagrado na constituição e os instrumentos jurídicos para seu cumprimento. O ITERJ é um importante exemplo também, sua criação é resultado deste contexto de redemocratização dos anos 1980 e 1990. Mas, os desafios ainda permanecem e são muitos.

 

Agora você está no Colégio Pedro II, porém o elo com Iterj ainda permanece com o desenvolvimento do capítulo do livro sobre o Leonel Brizola, que é um dos produtos do Projeto Memórias da Luta pelo Direito à Terra e à Moradia no Estado do Rio de Janeiro. Na análise dos dois momentos políticos,  compare as estratégias das duas lideranças Brizola e João Goulart?  

É importante analisar que o contexto dos anos 1960 que analiso no livro “Em Busca da Esquerda Esquecida” difere bastante do período trabalhado no “Projeto Memórias da Luta pela Terra” que foca principalmente no pós-1980. A própria atuação de Brizola distingue-se bastante. Entre 1962 e 1964, Brizola, então uma das principais lideranças políticas do país, fomentou a radicalização dos movimentos sociais, buscando levar o governo de João Goulart para mais à esquerda no espectro político. Suas propostas passavam pela aprovação das reformas de base, ainda que sem a aprovação do Congresso. Com uma atuação mais revolucionária naqueles anos, Brizola optava por uma estratégia marcada pelo confronto - greves, passeatas e manifestações públicas – com o intuito de forçar o Congresso conservador a aceitar as reformas. Em uma expressão comum entre as esquerdas revolucionárias da época, eram as reformas sociais “na lei ou na marra”. Já no início da década de 1980 e 1990, como governador do Rio de Janeiro, Brizola, até pelo novo contexto político e econômico nacional e internacional, tem uma postura mais moderada, buscando implementar reformas econômicas e sociais dentro das instituições políticas existentes.  

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