Maria Júlia Rodrigues, a mulher que encontrou na arte dos doces a transformação de uma vida

Quarta-feira, 10 de Agosto de 2016

Alguns doces de Maria Júlia Rodrigues

Um exemplo de superação a ser seguido pelos empreendedores de nossas comunidades

 

Miséria, fome, violência e exploração constituem uma realidade que ainda persiste em diversos núcleos familiares brasileiros marcados pela pobreza. Diante da negação dos direitos básicos numa sociedade, a casa pode representar “um espaço de privação, de instabilidade e de esgarçamento dos laços afetivos e de solidariedade”¹.

 

Maria Júlia sentiu, por anos, e ainda guarda na memória, as consequências de viver sem proteção contra as situações de vulnerabilidades sofridas, seja nas esferas social, econômica ou pessoal. “Vivendo no limite da subsistência, basta um pequeno golpe para lançá-las numa espiral descendente (...). O golpe pode vir sob a forma de uma única colheita ruim, um acidente ou doença grave, uma depressão econômica ou uma crise familiar”², explica Muhammad Yunus, criador do microcrédito para famílias pobres e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006.

 

“A nossa infância não era fácil e eu já dizia que assim que eu tivesse tamanho para trabalhar, eu iria mudar o rumo da nossa vida.  Com 11 anos de idade, eu saí para trabalhar como babá, o meu sonho era ter uma casa de tijolo” - conta Maria Júlia.  Diante da pobreza e da miséria, a infância era nula e o trabalho na adolescência não era a solução para os seus problemas. E ela continuava a receber outros “golpes” na vida que pareciam puxá-la para o fundo do poço.

 

“Mas eu não podia parar”, lembra Maria Júlia. Foi quando a garota, já adulta, teve a oportunidade de trabalhar como cozinheira nos hotéis da cidade fluminense de Barra do Piraí. “Na cozinha tinha que saber fazer de tudo”, conta. Nesse período, ela aprendeu a fazer diversos doces sofisticados. Os anos se passaram e ela teve alguns problemas de saúde que a afastaram por diversas vezes do trabalho.  

 

No último afastamento de Maria Júlia, a administradora Ana Lúcia Moura, da extinta ONG Amor Perfeito, convidou-a para ensinar outras mulheres sobre culinária. “Sentia felicidade de ajudar as pessoas”, lembra Júlia. Nesse período, ela começou os primeiros passos rumo à fabricação própria de doces: “Ana deu a ideia de fazer doces para vender no café de uma loja do irmão dela”.

 

Com a visualização da oportunidade, Júlia experimentou também fazer doces para festas e, logo, os seus quitutes começaram a ficar conhecidos na região de Ipiabas, que é um distrito do município de Barra do Piraí, no estado do Rio de Janeiro:“Começou a espalhar boca a boca”, relata a doceira.

 

Na ocasião, ela e o marido conseguiram construir uma casa e, então, resolveram montar  a loja na sala da casa. “Hoje, o prefeito e vereadores vão comprar doces na minha loja”, conta sorridente. A fama dos doces abriu outras oportunidades, como o fornecimento para restaurantes e eventos da região. Sua loja é também ponto de parada de alguns roteiros turísticos de hotéis de Barra do Piraí.

 

 

Atualmente, podemos dizer que Maria Júlia já é uma empreendedora de sucesso. São ainda inúmeros os desafios, como a divulgação online e a adequação do produto dentro de padrões estabelecidos para revenda em diversos pontos comerciais. “Hoje, o meu sonho é superar expectativas, ter um nome bom, que sofreu, mas que venceu na vida. É isso que quero deixar para os meus netos, uma oportunidade melhor para a vida”.    

 

Para saber mais:

Doces Maria Júlia
O que é: Doces em Compotas, Tabletes, Compotas Salgadas, Café, Bolos, Broa, Tortas, Geleia, Suco Naturais, Biscoitos…                                                                                                                                                             Localização: Estrada Ipiabas, Dorândia, 685 - Após a Pousada do Castelo.
Contato: (24) 99272-8958 / 99857-3874 / 99276-0634

 

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1. GOMES, M.A.; PEREIRA, M.L.D. (2005). Família em situação de vulnerabilidade social: uma questão de políticas públicas. Ciência e Saúde Coletiva, 10, 2, p. 357-363.

2.  YUNUS, M. Criando um negócio social: como iniciativas economicamente viáveis podem solucionar os grandes problemas da sociedade. Tradução: Leonardo Abramowicz - Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

 

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