Iterj na Mídia: O Vidigal Visto do Alto
Segunda-feira, 20 de Maio de 2013

Reportagem do Jornal O Globo
Boa parte dos imóveis da comunidade não tem escritura definitiva. São terrenos do estado, que ainda não concluiu a regularização fundiária. Segundo o Instituto de Terras e Cartografia do Rio de Janeiro (ITERJ), já foram entregues 691 títulos de propriedade e outros mil sairão este ano — só recebem as famílias com renda mensal até cinco salários mínimos, e não são regularizados imóveis em áreas de risco ou de proteção ambiental. O Movimento Cidade Unida, que reúne pesquisadores e lideranças com duas prioridades básicas: o título de propriedade e a instalação de uma lousa em cada casa.
No topo do Vidigal, uma árvore se destaca em relação às outras. Tão grande, pode ser vista do asfalto e batiza o lugar ao seu redor. A área conhecida como Arvrão abriga um esboço de praça, um mirante com vista para as praias do Leblon e de Ipanema, além da Lagoa, tem crianças no chão e pipas no céu, caminhos sinuosos e degraus ladeados por corrimãos. E tijolos, muitos tijolos. São obras de reformas, construções, adaptações e melhorias em casas, hotel, hostel, bar, restaurante. No passado, o Arvrão foi quartel-general dos traficantes, e hoje é o principal exemplo do que pode se tornar o Vidigal num futuro muito próximo. As transformações impulsionadas pela instalação da UPP, que neste domingo completa 16 meses, ganharam ritmo acelerado nos últimos tempos.
O lixo produzido em 1.151 dos 3.360 domicílios onde não é recolhido diretamente pela Comlurb, segundo os números do IPP. Mais da metade da população deposita o lixo em caçambas superlotadas. Marcelo da Silva, presidente da associação de moradores, vê na insuficiente coleta um “problema seriíssimo” e reivindica uma série de outras soluções para serviços básicos.
— Canais de esgoto entopem e vazam por não suportarem mais as exigências da favela, o asfalto da Avenida João Goulart não aguenta o peso dos caminhões, o abastecimento de água não chega com a mesma pressão nos andares superiores das casas e o trânsito é caótico, com muitos carros e 200 moto-táxis. A gente vê aumentar o interesse da iniciativa privada, mas não do poder público — diz Marcelo, para quem as estatísticas populacionais não correspondem à verdade. — Temos aqui umas 30 mil pessoas, enquanto o IBGE calcula cerca de 10 mil.
Casa de um quarto por R$ 150 mil
Quem vendeu seus imóveis em tempos pós-ocupação teve suas expectativas superadas. No Arvrão, onde a vista valoriza qualquer fresta, não se encontra uma casa de um quarto por menos de R$ 150 mil, avalia o corretor de imóveis José Nélio Pereira da Silva, mais conhecido como Gerônimo, há cinco anos dono da primeira imobiliária do Vidigal. Entre 2011 e 2012, ele diz ter vendido cerca de 40 imóveis na favela para “gente de fora”.
— E todos querem vista. Para reformar e alugar, para investir e vender, para se mudar, porque não compram no asfalto pelo mesmo preço. Não existe outro bairro da Zona Sul com uma valorização tão rápida. É especulação mesmo. Para ele, o êxodo é inevitável:
— Mas quem se muda, muda para melhor. Vai morar em casas maiores, vive de aluguel, muda de vida.
O casal Priscila e Jorge Araújo vendeu para um húngaro, na aurora da instalação da UPP, um apartamento na Avenida João Goulart, que dá acesso ao morro. Nascidos no Vidigal, com o dinheiro — não revelam a quantia — compraram um terreno na comunidade para construir uma casa “melhor e maior”, além de outra casa, em Guaratiba. Este ano, Gerônimo vendeu um imóvel de dois quartos no 25, uma área pouco valorizada, por R$ 140 mil. Com as negociações imobiliárias aquecidas, o valor médio do metro quadrado no Vidigal chega a custar R$ 6.400, enquanto na vizinha e abastada Gávea é de cerca de R$ 13 mil. A diferença parece não levar em conta a infraestrutura precária e os serviços locais deficientes. E boa parte dos imóveis da comunidade não tem escritura definitiva. São terrenos do estado, que ainda não concluiu a regularização fundiária. Segundo o Instituto de Terras e Cartografia do Rio de Janeiro (ITERJ), já foram entregues 691 títulos de propriedade e outros mil sairão este ano — só recebem as famílias com renda mensal até cinco salários mínimos, e não são regularizados imóveis em áreas de risco ou de proteção ambiental.
As paredes do quarto-escritório do arquiteto paraibano Pedro Henrique de Cristo, de 30 anos, são lousas escolares gigantescas, onde o mestre em Design e Políticas Públicas na Universidade de Harvard escreve suas palavras de ordem: “conhecimento”, “espaço”, “pessoas”. Morador do Vidigal há pouco mais de um ano, Pedro é especialista em integração de favelas e fundador do Movimento Cidade Unida, que reúne pesquisadores e lideranças com duas prioridades básicas: o título de propriedade e a instalação de uma lousa em cada casa. Pedro recebeu da ONU-Habitat um prêmio de R$ 40 mil para realizar um seminário de troca de experiências entre lideranças de favelas do Rio e do exterior e faz parte de uma geração de novos inquilinos que, além de escolher a favela para morar, se envolve com os problemas locais:
— Acredito que a mudança da cidade deve sair da sociedade civil para o poder público, e não o contrário. Se não querem ajudar, que não nos atrapalhem.
Lixão vira parque ecológico
Com esta filosofia, Pedro ajudou a transformar o Sitiê, antigo lixão cujos detritos foram retirados ao longo de sete anos pelos próprios moradores, em parque ecológico(...)
Texto na íntegra:
http://oglobo.globo.com/rio/o-morro-do-vidigal-visto-do-alto-8434256
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